terça-feira, 3 de agosto de 2010

Cabelo Bandido

Realmente me preocupa essa obsessão capilar nos tempos contemporâneos. Hoje em dia, nego faz qualquer negócio pra ter cabelo de propaganda de shampoo. Se disserem que titica de pombo alisa cabelo, as praças estavam todas limpas. No trabalho, aqui por exemplo, todo mundo sempre pegava no pé de Candinha:

- Mar mulé, deixe de criar esse cabelo igual bandido... Quando não tá armado, tá preso! Solte os cachos, solte. Ande com os cabelos ao vento, sem lenço, sem documento. – E Candinha disfarçava, dava seus risinhos pela sala, saía de fininho e mudava o assunto.

E por causa de tanta apurrinhação Candinha inventou solucionar seu problema dentro de casa mesmo. Dozinha, sua filha, tinha certeza que era cabeleireira, e Candinha foi na onda.

Certo dia me chega aqui na sala do trabalho Candinha desesperada, com aquele olhar de quem caiu no busú no meio do povo todo, e não teve um cristão pra ajudar.

- Ô minha filha, você num sabe o que eu passei nesse fim de semana com esse cabelo, com esse mafuá... – foi ela logo desabafando suas infelicidades capilares. – Dozinha, a mais velha lá de casa, inventou de passar uma tal de escova inteligente no meu cabelo, mas eu acho que de inteligente ela não tinha era nada, por que me esculhambou. Botei o troço e meu cabelo no sábado e domingo começou a cair.

E Candinha contava o episódio todo numa tristeza, numa angústia de dar dó. Relatou que olhava no espelho e achava que a testa estava crescendo, o ‘telhado’ estava ficando com umas falhas, e sobrou pra sua filha Dozinha.

- Você me paga sua nigrinha! Arruinou o meu cabelo. Ó pai ó, caindo igual umbu maduro. Ô meu jesus, o que eu faço agora?

Aquele chororó sem fim, não deixava nem Dozinha pensar direito, ela até sugeriu passar um produto antiqueda, mas Candinha não quis nem conversa. No cabelo dela Dozinha não tocava mais!

Só sei que depois do furdunço armado, o marido de Candinha deu a idéia dela ir na cabeleireira de sua confiança e fazer um tratamento para queda do seu cabelo.

Na semana seguinte, tudo mais calmo, Candinha me volta lá no trabalho com um rabo de cavalo mais ‘ripuxado’ que nunca. Ao menor sinal de alguém pedir pra que ela soltasse os cachos, a mulher rodava a baiana:

- Olhe, tá preso, e tá seguro, e não vai ficar armado! Quando eu fizer uma escova, e olhe lá, posso até deixar solto, mas agora quem manda aqui nele sou eu. E me deixe, vu!? Meu cabelo é meu e vai ficar em paz.

Depois dessa hein, Candinha... Eu que não falo mais nada, vai que cai de novo né?

3 comentários:

  1. kkkkkk muito legal Cela,você e seus Causos!muito bom
    Beijos

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  2. Obrigada liz, vc sempre por aqui! bj

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  3. Bom demais esse texto, minha talentosa e linda amiga! Bj!

    ALEMÃO.

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