segunda-feira, 19 de abril de 2010

Big Brother Bahia

Já percebeu que estamos na era da vigilância? Que tudo que você faz ou fala pode está sendo gravado, filmado, fotografado? Tem um amigo meu que foge de câmera fotográfica igual diabo foge da cruz... Não me pergunte o porquê...

Enfim, o causo é que sem tomar os cuidados com isso, Zé da Pomba me deu uma história prontinha para escrever aqui.

Zé da Pomba talvez nunca entrasse nesse blog, estava sumido das farras, e sossegado no seu lar doce lar. Mas como qualquer reprimido, quando a sua mulher viajou numa sexta, ele deu seu grito de liberdade! Ligou pra os amigos que não encontrava há meses, marcou uma cerveja, pediu que levassem violão, timbau, a miséria toda, porque essa sexta iria virar sábado fácil.

Só tinha uma coisa que Zé não podia esquecer, assim como a cinderela, aliás pior que a cinderela, duas vezes na noite ele deveria ligar para sua digníssima do telefone de casa, para provar que não estava na esbórnia.

E lá foi ele, com sorrisão de orelha a orelha, e foi aquela putaria, aquele monte de baiano no boteco, uma zuada, uma fuzarca, um fuzuê da porra. Todo mundo querendo saber como Zé da Pomba, depois de tanto tempo, tinha conseguido a carta de alforria. Zé da Pomba tirou uma onda, disse que agora era rei em casa, que não tinha que a mulher não tinha que reclamar de nada.

Tomou todas as cervejas que tinha direito, dava um cheirinho numa menina, um beijinho no cangote da outra, estava em seu habitat natural. No auge da baderna, Zé olhou a hora e disse que tinha que ir no banheiro. Só que para espanto de todos, ao invés de seguir para o banheiro do bar, Zé saiu com seu carro, poucos minutos depois voltou. Mais umas cervejas, umas piadas e um rebolation... Outra saidinha. A confraria percebeu logo, era o “boa noite” da patroa que estava fazendo o sacaninha correr tanto assim. Mas tudo ficou bem, Zé se esbaldou com sua noite de rei, sem mulher por perto pra proibir nada.

Felicidade maior foi quando a mulher ligou dizendo que estava pensando em passar mais uns dias fora, Zé da Pomba comemorou como se fosse o título da Copa do Mundo!!! Coisa melhor não podia acontecer, como era bom aquele gostinho de liberdade, e pensando como aquela tonta não percebia que o plano das duas ligações na noite não empatava em nada ele ficar pela rua. E lá foi ele repetir tudo da primeira noite, samba, suor e cerveja, sem esquecer da corrida até em casa, ligar para a patroa e voltar para a noitada.

No terceiro dia cedinho, o telefone de Bino (amigo de Zé) toca, ele atendeu meio tonto e viu que era Zé:

- Que foi Zé? Não cansou não? Tá cedo ainda misera, espera mais tarde que a gente continua a bagaceira, meu fígado tem que descansar. – Do outro lado da linha, quase murmurando Zé da Pomba fez o apelo.

- Bino, se precisar, posso dormir em sua casa hoje? Caí numa cilada... Nem sei se volto a dormir no meu quarto de novo...

Sem entender muito, Bino foi escutando Zé da Pomba contar... Sua mulher preparou uma armadilha e Zé caiu. E com as provas que ela conseguiu, não tinha desculpa que salvasse sua pele. Quando ela ligou dizendo que ia passar mais outros dias fora, já estava de malas prontas pra voltar pra casa. Chegou e encontrou vestígios de cerveja, roupa suja espalhada, e Zé da Pomba com o nome ressaca escrito da testa. Zé negou, esperneou, se fez de vítima, e ia até dando certo, quando a mulher, sem dizer nada, desceu o prédio correndo até a portaria. Fez o porteiro mostrar todas as imagens de segurança, até conseguir a prova que queria a imagem das duas últimas noites com Zé da Pomba saindo e entrando no seu prédio duas vezes em cada noite, ou seja, os dois telefonemas, e a chegada final, altas horas do dia, quando Zé finalmente voltava pra casa...

Bino não aguentava e ria até rolar no chão.

- Tome sacana, seu Big Brother te colocou no paredão, mas fique tranqüilo, que enquanto você não tiver chance de voltar pro quarto do líder, meu puxadinho está aqui pro que der e vier.

terça-feira, 13 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Semana Santa, santa gulodice!

Tento me controlar, mas não consigo. Sempre que vou começar a digitar algo aqui, me vem algum causo ou hábito baiano pra contar... São as raízes que teimam em me direcionar nos textos e todo resto mais.

Pois sim, baiano se acha na sexta-feira santa, é quando o vatapá pode ser prato oficial, o acompanhamento ideal para o peixinho santo, e porque não seguir com o caruru, torta de bacalhau, e um arrozinho pra rebater? E foi nesse banquete todo que Isaltino se reuniu com toda a parentada. Ah, não contei quem é Isaltino? Ele é aquele cara que gosta de estar no centro da família, soltar uma piadinha, uma não, várias... tomar a sua cervejinha, dá aquelas risadas altas, perturbar o sobrinho mais desavisado, tirar um sarro com a derrota do time do cunhado. E a sexta-feira santa é o palco pra tudo isso.

Apesar do significado do feriado, Isaltino repetiu a dose dos domingos, e na empolgação do feriado fez até além da conta... além de exagerar na cerveja e no vinho, resolveu se fartar daquele comilança à sua frente.

- Minha pretaaaa, ponha um prato pra seu querido aqui vá! Daquele jeito, no capricho. - gritava Isaltino da porta da casa pra esposa que estava no fundo da cozinha, do lado oposto da casa de sua mãe.

- Venha fazer você mesmo que eu estou cuidando da panela aqui e não posso deixar aqui pra fazer seu prato não! - Respondia a mulher sempre prestativa.

E lá foi Isaltino, fez aquele prato que mal se podia ver quem estava na outra ponta da mesa. Antes para a degustação dos quitutes, pegou o molho da moqueca, e querendo dar uma de civilizado para os parentes, encheu meio copo e tomou. O povão todo protestou:

- Você tá doido?! Isso é purgante puro! Dendê e leite de coco!!! Que maluco papá!

-Tudo um rebain de tabaréu! Nunca tomaram caldo em praia que nem eu! Isso aqui é caldo de peixe, bocó! Dá sustança! - Tomou de uma golada só. Comeu até não se aguentar mais e foi embora.

No sábado de Aleluia, tudo tranquilo. Isaltino tinha compromisso numas roças perto de sua cidade, e acompanhou sua chefe na empreitada. Sabe que nesse interiozão de meu Deus, qualquer casa que você visite tem sempre uma mesa posta pra você, e ai da desfeita não comer um cadim. Isaltino com aquele estômago meio vazio não se fez de rogado, saiu de casa sem tomar café e no meio da manhã com aqueles dois sóis na nuca, aceitou uma jarra de caldo de cana e duas fatias de bolo.

Na volta pra casa, o milagre da ressurreição estava para acontecer. O que ele imaginava já está morto dentro dele, começou a dar sinais de vida. Sentiu aquele calafrio nas costas dentro do carro. Fechou o vidro por causa do vento. Cinco segundos depois, abriu o vidro de novo, estava suando que nem porco. De repente o peixe do dia anterior começou a nadar na sua barriga, veio aquele ronco alto, junto com aquele gás mortal acompanhando. Nossa Senhora, Isaltino achou que tinha passado por algum bicho morto na estrada. Começou a acelerar o carro, trancando seu cano de escapamento tanto, que nem um fio de cabelo passava ali. Era arrepio, dor, uma cólica dos diabos.

Foi o tempo de chegar em sua casa, derrubando o tinha pela frente, sentou no trono, e ficou ali como rei chorando pela sua nação. Depois de meia hora gemendo, se esvaindo, e com as forças perdidas, Isaltino deitou-se em seu quarto, morto praticamente, e apagou. No fim da tarde já se sentindo aliviado, ouve um grito da mulher, que quase o mata do coração.

- Isaltinoooooo! Levanta daí agoraaaaaa!!!! Olha que merda você fez!!!!!! - Puxando o pobre pelo braço. Quando ele pôde abrir os olhos viu o resto do seu peixe nadando no caldo de cana, ali mesmo em cima de sua cama. Sei o quanto muita gente deve está lendo esse trecho aqui meio enojado, mas não poderia cortar essa parte, mas foi desse jeitinho... Nessa semana Santa, na qual o milagre do peixe, ou melhor, do caldo de peixe operou em Isaltino, depois dessa acho que ele toma jeito e não toma mais dessas coisas...