quinta-feira, 8 de abril de 2010

Semana Santa, santa gulodice!

Tento me controlar, mas não consigo. Sempre que vou começar a digitar algo aqui, me vem algum causo ou hábito baiano pra contar... São as raízes que teimam em me direcionar nos textos e todo resto mais.

Pois sim, baiano se acha na sexta-feira santa, é quando o vatapá pode ser prato oficial, o acompanhamento ideal para o peixinho santo, e porque não seguir com o caruru, torta de bacalhau, e um arrozinho pra rebater? E foi nesse banquete todo que Isaltino se reuniu com toda a parentada. Ah, não contei quem é Isaltino? Ele é aquele cara que gosta de estar no centro da família, soltar uma piadinha, uma não, várias... tomar a sua cervejinha, dá aquelas risadas altas, perturbar o sobrinho mais desavisado, tirar um sarro com a derrota do time do cunhado. E a sexta-feira santa é o palco pra tudo isso.

Apesar do significado do feriado, Isaltino repetiu a dose dos domingos, e na empolgação do feriado fez até além da conta... além de exagerar na cerveja e no vinho, resolveu se fartar daquele comilança à sua frente.

- Minha pretaaaa, ponha um prato pra seu querido aqui vá! Daquele jeito, no capricho. - gritava Isaltino da porta da casa pra esposa que estava no fundo da cozinha, do lado oposto da casa de sua mãe.

- Venha fazer você mesmo que eu estou cuidando da panela aqui e não posso deixar aqui pra fazer seu prato não! - Respondia a mulher sempre prestativa.

E lá foi Isaltino, fez aquele prato que mal se podia ver quem estava na outra ponta da mesa. Antes para a degustação dos quitutes, pegou o molho da moqueca, e querendo dar uma de civilizado para os parentes, encheu meio copo e tomou. O povão todo protestou:

- Você tá doido?! Isso é purgante puro! Dendê e leite de coco!!! Que maluco papá!

-Tudo um rebain de tabaréu! Nunca tomaram caldo em praia que nem eu! Isso aqui é caldo de peixe, bocó! Dá sustança! - Tomou de uma golada só. Comeu até não se aguentar mais e foi embora.

No sábado de Aleluia, tudo tranquilo. Isaltino tinha compromisso numas roças perto de sua cidade, e acompanhou sua chefe na empreitada. Sabe que nesse interiozão de meu Deus, qualquer casa que você visite tem sempre uma mesa posta pra você, e ai da desfeita não comer um cadim. Isaltino com aquele estômago meio vazio não se fez de rogado, saiu de casa sem tomar café e no meio da manhã com aqueles dois sóis na nuca, aceitou uma jarra de caldo de cana e duas fatias de bolo.

Na volta pra casa, o milagre da ressurreição estava para acontecer. O que ele imaginava já está morto dentro dele, começou a dar sinais de vida. Sentiu aquele calafrio nas costas dentro do carro. Fechou o vidro por causa do vento. Cinco segundos depois, abriu o vidro de novo, estava suando que nem porco. De repente o peixe do dia anterior começou a nadar na sua barriga, veio aquele ronco alto, junto com aquele gás mortal acompanhando. Nossa Senhora, Isaltino achou que tinha passado por algum bicho morto na estrada. Começou a acelerar o carro, trancando seu cano de escapamento tanto, que nem um fio de cabelo passava ali. Era arrepio, dor, uma cólica dos diabos.

Foi o tempo de chegar em sua casa, derrubando o tinha pela frente, sentou no trono, e ficou ali como rei chorando pela sua nação. Depois de meia hora gemendo, se esvaindo, e com as forças perdidas, Isaltino deitou-se em seu quarto, morto praticamente, e apagou. No fim da tarde já se sentindo aliviado, ouve um grito da mulher, que quase o mata do coração.

- Isaltinoooooo! Levanta daí agoraaaaaa!!!! Olha que merda você fez!!!!!! - Puxando o pobre pelo braço. Quando ele pôde abrir os olhos viu o resto do seu peixe nadando no caldo de cana, ali mesmo em cima de sua cama. Sei o quanto muita gente deve está lendo esse trecho aqui meio enojado, mas não poderia cortar essa parte, mas foi desse jeitinho... Nessa semana Santa, na qual o milagre do peixe, ou melhor, do caldo de peixe operou em Isaltino, depois dessa acho que ele toma jeito e não toma mais dessas coisas...

3 comentários:

  1. Isaltino... tô aqui tentando descobrir por eliminação, mesmo assim tá difícil,rsrs.

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  2. kkk quem não tem um amigo"Isaltino" ele está sempre em todo canto e lugar
    Beijos

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